Caramurus negros é resultado de mais de 30 anos de pesquisa sobre a maior condenação coletiva de escravos à pena de morte no Brasil
Publicada em 13/05/2025
O professor Marcos Ferreira de Andrade, do curso de História da Âé¶¹ÊÓÆµ (DECIS), promove o pré-lançamento do livro Caramurus negros: a revolta dos escravos de Carrancas - Minas Gerais (1833) nesta terça-feira, 13, dia em que a revolta completa 192 anos. A obra, na pré-venda pela , é resultado de mais de 30 anos de pesquisa sobre o episódio de maior condenação coletiva de escravos à pena de morte da história da escravidão no país.
Em 13 de maio de 1833, a insurreição escrava mais violenta do Sudeste do Império, no Sul de Minas, resultou na morte de 33 pessoas - 21 escravos, 9 membros da família Junqueira, 1 agregado e 2 “pessoas de cor”. O lançamento é composto da transcrição de parte dos autos do processo-crime da revolta e de posfácio no qual se evidencia como as elites regionais e o próprio Estado imperial lidaram com os rebeldes insurgentes.
“Todos que conhecem a minha trajetória acadêmica sabem que a história da Revolta de Carrancas se funde com a minha formação como professor e historiador, quando, no final da década de 1990, pude divulgar essa história até então completamente desconhecida nos estudos historiográficos, e que cada vez mais me surpreende e impressiona. Trata-se da revolta escrava mais sangrenta do Sudeste escravista de que se tem notícia”, afirma o professor Andrade.
A revolta dos escravos de Carrancas está inserida em um contexto de intensos conflitos e repressão militar. O Brasil havia se tornado um país independente há pouco mais de uma década e as elites políticas e escravistas disputavam espaço na construção do Estado nacional com projetos distintos, muitas vezes conflitantes. Em várias províncias, inclusive em Minas Gerais, essas disputas estavam muito presentes.
Ao se autodenominarem “caramurus”, um dos agrupamentos políticos da época, os rebelados afirmavam seu protagonismo diante das identidades em disputa no período. Caramurus negros: a revolta dos escravos de Carrancas, destaca a potência identitária do grupo: “E sendo perguntada mais pelo conteúdo no referimento que nela fez a testemunha Luiz Antônio de Oliveira que lhe foi lido, respondeu que era verdade que o preto Antônio Benguela pulava no seu terreiro e batia nos peitos dizendo para ela e seu companheiro: vocês não costumam a falar nos caramurus, pois conheçam agora os caramurus, nós somos os caramurus e vamos arrasar tudo”.
Andrade traz à tona parte da história e das lutas de personagens como Ventura Mina, André Crioulo, Antônio Benguela, Joaquim Mina, Antônio Rezende e tantos outros (incluindo mulheres e crianças) que os acompanharam. Ao estabelecer esse panorama, o professor possibilita a compreensão do cotidiano da escravidão, as relações que essas pessoas estabeleciam, as alianças, as hierarquias e as disputas na vivência em cativeiro e, principalmente, os sonhos e projetos de liberdade que acalentavam.
A obra salienta que ainda que os audazes e destemidos “caramurus negros” pudessem imaginar as graves consequências de participar de uma insurreição e tenham sido derrotados e punidos de forma exemplar, colocaram em prática seus projetos de liberdade e, assim, entraram para a história.
Marcos Ferreira de Andrade nasceu em Lagoa Dourada (MG). Doutor em história pela Universidade Federal Fluminense, publicou livros, capítulos de livros e artigos relacionados à história da escravidão brasileira, especialmente sobre a revolta dos escravos de Carrancas. Desde 2008 é professor do curso de história da Universidade Federal de São João del-Rei.
A de Caramurus negros: a revolta dos escravos de Carrancas - Minas Gerais (1833) começa nesta terça-feira, 13, com 20% de desconto até o dia 25/05. Com informações da .
Texto e Arte: Luiza Ferraz